Desde que eu me entendo por gente o corpo magro não é apenas um acessório da moda, ele é quase um item necessário à felicidade feminina. Essa exigência tão forte e imponente por uma magreza sobre-humana e normalmente criada por meios não saudáveis adoece as pessoas a tanto tempo que o medo de engordar e todo o processo que o produz e nutre foi normalizado ao longo do tempo.
Se sentir feia, menos feminina, insuficiente e indigna de amor e carinho por não atingir os padrões do que é socialmente considerado “magra o suficiente” (ou não sentir que atinge esses padrões) são os resultados que essa cultura gerou em mim, resultados esses que eu enfrento todos os dias. Agora que estou mais velha, entendo também que outras mulheres (inclusive mais velhas que eu) também compartilham dessas sensações e que apesar de terem se originado quando eu era muito nova, elas não pertencem apenas à infância/adolescência.
Apesar de involuntariamente, a minha relação com o meu corpo não tem efeitos só em mim, como também nas pessoas ao meu redor. Percebi isso pela primeira vez quando o meu auto-amor conturbado afetou minha irmâzinha que tinha 10 anos na época que me via fazer jejuns bizarros em nome do emagrecimento e foi exposta a essa hostilidade dentro do seu próprio lar. Foi quando aquela criancinha tão inocente começou a querer me “copiar” que eu me convenci que magreza nenhuma valia a saúde mental da minha irmã, e foi aí que eu decidi melhorar.
Não posso vir aqui e dizer que eu estou curada, que aceito e amo meu corpo por completo e que estou totalmente satisfeita com meu físico porque estaria mentindo, ainda sou afetada pela comparação, pelos enjoos ao ver comida, pelas crises de autoestima e pela culpa depois das refeições. Mas posso dizer que agora as vezes me alimento mais de três vezes no dia e que tomo café da manhã, e digo isso com orgulho pois estou trabalhando e lutando todos os dias pra me sentir melhor, pra mim, cada vitória é uma vitória.
Acho que o que me gatilhou, inspirou e me despertou a necessidade de escrever esse texto foi ouvir minhas amigas confessarem que o maior medo elas era muito simples: engordar. Memes como o “magras, magras, magras” e pessoas que têm esse tipo de pensamento fazem pessoas com experiências parecidas com as minhas parecerem invisíveis, então estou escrevendo para dizer com todas as letras: eu te vejo, eu sou como você e eu estou melhorando aos poucos então você também pode!
Cuidem das suas cabecinhas, vocês são incríveis e muito mais que suficientes, cuidem também das meninas mais novas que vocês e lembrem elas de que elas também são muito mais do que apenas seu corpo (todo mundo precisa ouvir isso de vez em quando, apesar de ser meio clichê).